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A jovem finalmente alcançou o fervilhar de luzinhas provenientes das tochas. Ansiedade! Palpitações! Delírio! Mary girou ao redor de si mesma enquanto avistava todos aqueles olhos arregalados a serpenteá-la, espreitavam, faziam espirais...

- Deus!

A jovem elevou as mãos aos céus, mas os galhos das mais robustas árvores alcançavam as estrelas e cobriam a noite. Quem era seu Deus?

- Quem é o seu Deus?
A escrava princesa se aproximou cobrindo Mary com o mais doce dos feitiços... Soprou um pó vermelho que se espalhou no ar... Indagou-a sobre suas crenças.

- Senhor...
Mary gemia... Gemia! Dava voltas em si mesma, erguia as mãos... E o tambor berrava chamando os espíritos! A escrava princesa gargalhava! Gargalhava! Arrancava a capa da jovem, fazia uma ode ao deus do seu povo!

- Meu Deus está aqui!
Mary não podia ver, não conseguia ver... Seu corpo queimava e o tambor elevava o calor da dança frenética que conduzia as carnes a outro estado de espírito. Ferve! Dança! Gira! A fogueira queimava! O ritual se cumpria!

Ferve! Eleva! Espírito! O suor! O calor! Quem era o seu Deus? O Deus de Mary não estava ali!
A jovem foi suspensa em estado de graça enquanto recebia o néctar dos deuses... Bebeu! Delirou! Arrancou as vestes e foi além de seu mundo... Encontrou o deus da África!
Aisha a recebeu em seus braços e compartilhou de seu êxtase... Suor! O desejo! Mary perdeu as forças em meio ao batuque, esqueceu de si, gargalhou a sensação surreal, flertou no limite do obsceno, ousou brincar com as mais obscuras forças de um mundo inexplorado.
Batuque! Batuque! Fogueira! Gira! Gira! Chama! A chama da senzala! Evoca! Evoca!
Atira! Um tiro! O diabo do capataz surgiu assustando os corpos cambaleantes. A bala cruzou a floresta e atingiu alguém, sangrou a carne, sangrou a alma e, em meio a correria, Mary foi arrebatada por Aisha para além do conflito, para uma cabana perdida na mata.